domingo, 27 de junho de 2010

Contos

Se existisse realmente um príncipe e se esse príncipe fosse realmente chegar num cavalo branco e levar a menina escolhida para um castelo, ele seria esse príncipe. Porque ele é fofo, lindo, esportista, engraçado e inteligente. O que mais uma menina de 15 anos poderia querer?

E foi assim que durante toda sua adolescência ela fantasiou momentos com seu pseudo-príncipe e virou íntima dele, sem nunca terem trocado sequer uma palavra. Ele, de fato, não sabia nem seu nome. Mas ela sabia todos os detalhes que ele jamais poderia imaginar que ela soubesse.

A história esperada era que ela crescesse e em algum momento pudesse ter contato com ele para saber que seu príncipe não é, nem era, tão inteligente assim, que depois de todos esses anos ele adquiriu aquela barriguinha de chopp e que o surf é algo que faz parte atualmente mais da decoração do seu quarto do que de sua vida. Aliás, um ponto importante a ser mencionado é que ele tem 28 anos e ainda mora com seus pais. Sua cama é de casal, o que indica que, muito provavelmente, ele não tem planos de sair de lá. Ele não tem o emprego dos sonhos, mas é o suficiente para pagar suas noitadas da "eterna" vida de solteiro que planeja ter.

Mas essa é só a história esperada. 

Acontece que depois de todos os anos acreditando que ele era, de fato, um príncipe encantado, sem ter nenhuma prova real disso, apenas imaginando por sua beleza, carisma e outras características perceptíveis a alguns metros de distância, ela o conheceu de verdade, numa festa, quando já tinha 25.

Ele não mora com os pais. Apesar de ter continuado na vizinhança, desde que começou a trabalhar, tem sua própria casa. Ele é inteligente, sim. E trabalha com criação, na sua própria empresa. Além disso, ele ainda surfa todos os dias. Foi uma coisa da qual não abriu mão, mesmo com toda a vida de adulto que leva.

Além disso, ele tem uma vida social agitada, porque o trabalho dele pede isso. Ele precisa visitar os clientes e amigos para poder realizar suas criações. E a parte melhor disso tudo é que ele terminou há alguns meses o namoro de 6 anos, no qual planejava casar e ter filhos. Mas não deu certo porque acabou que eles viraram mais amigos do que amantes e a relação foi para o brejo.

Quando ela está decidida de que ele é realmente seu príncipe e basta jogar um charme para dar o primeiro passo, chega uma pessoa não esperada na história. 

Sim, você pode imaginar. É um fato recorrente no mundo atual. Quem chegava, com um buquê de flores e uma caixa de bombom na mão era... seu namorado. Poderia ter sido uma linda história de amor. Na verdade foi, mas não para ela.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Coisas que a gente nunca diz



Eu acabei de ler um texto no Le Love. Um texto que me fez pensar que as coisas que acontecem comigo, que acontecem com você, acontecem com todo mundo. Mas, por mais que a carência das pessoas faça com que elas falem além do que as pessoas estão dispostas a escutar, ainda tem aquelas coisas que ninguém nunca fala sobre.

Ninguém nunca fala sobre o fato de se sentirem atraídas por outras pessoas, quando estão amando ou apaixonadas por alguém. Porque nós sempre aprendemos que isso não existe. Que, ou você pensa em uma pessoa, ou você pensa em outra.

Ninguém nunca fala sobre casar com um cara só porque essa é a coisa mais certa a fazer, porque a pessoa que você ama de verdade, não quer ficar com você. As pessoas não falam sobre isso. Talvez porque isso cause muita dor a elas, talvez porque elas têm medo de perder o tal cara com quem estão casando.

Ninguém nunca fala sobre como o dinheiro é importante e por isso que se tolera um emprego chato. Essa eu tenho quase certeza que é porque é muito triste admitir isso. Admitir isso levaria  a um estado depressivo. E ninguém quer ficar em estado depressivo.

Por que não podemos falar sobre nossos tabus? Eu falo sobre os meus tabus. Disseram para mim, um dia, que eu não falo toda a verdade, mas só a verdade que me interessa falar. Eu não concordo. Eu acho que eu falo toda a verdade, toda a verdade que interessa ser dita. Seja para mim, seja para outra pessoa. Eu acredito que a verdade nos torna completos. Eu não sei se é errado, se é certo, falar sobre tudo como eu gosto de falar. Mas é como eu me sinto melhor.

O mais irônico disso tudo é que, quem esconde, ou quem prefere não falar, pensa que está vivendo algo único, que não acontece com mais ninguém. Mas as coisas geralmente acontecem, sim, para todo mundo.

No caso do texto que li, a menina se apaixonou por um cara que nunca quis nada sério com ela. E, hoje, após alguns anos, ela vai casar com um cara que não é o cara que ama. É certo? É errado? Não sei. Mas não consigo ver como isso pode ser justo com o noivo. Se ele sabe que ela não o ama, se ela sabe que está casando porque nunca terá chance de casar com quem ela realmente ama... se ele sabe disso e, mesmo assim, quiser casar com ela, acho muito válido esse casamento. Eles podem aprender a se amar. Ela pode aprender a amá-lo. Mas se isso nunca acontecer? Ela vai fazer com que ele viva uma mentira. Não, não consigo ver essa situação de outra maneira.

Pode ser clichê e utópico, mas eu acredito numa vida verdadeira. Muito diferente disso. Muito diferente de todos os exemplos que eu dei acima. As pessoas podem, sim, sentir tudo isso e viver tudo isso, mas é preciso que sejam verdadeiras. Se quiserem enganar, que enganem a si mesmas. Mas não enganem os outros. Eles não têm nada a ver com sua covardia (não quero parecer grossa, mas não encontrei outra palavra que simbolize melhor o que quero dizer).

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Big Fish


Quem não gosta de boas histórias? Às vezes simplesmente não tem importância se elas são verdadeiras ou não, o que importa é ouvi-la, imagina-las, pensar no que aconteceu antes, no que vai acontecer depois, na emoção dos personagens, nas lições que podemos tirar, das coisas boas, das coisas difíceis.

Estamos sempre em busca de uma verdade, sem nem entender porquê a queremos tanto! O que faz da verdade mais especial? Não estamos aqui para viver, de qualquer forma? Se o que vivemos com alguém ou com alguma coisa não foi real, mas sentimos aquela experiência como sendo real, não é isso o que importa? O mundo dos sentidos?

Nem sempre boas histórias acontecem na vida real. E ela pode ser até bem chata de vez em quando. Mas as pessoas não contam as histórias como elas acontecem, elas as contam como as vêem. E isso é o que temos de mais interessante. Nossa indiviualidade faça com que tenhamos diversas versões dos mesmos fatos e podemos torná-lo ainda mais interessante do que é ou foi, na verdade.

Eu posso dizer que fui à feira, comprei frutas e voltei para casa. Mas posso dizer também que a alegria do feirante era esplêndida e eu imagino que ele esteja assim feliz porque, provavelmente, sua filha mais velha acaba de ser pedida em casamento por um bom moço. E, ao pedi-la em casamento, propôs uma viagem em família para uma praia paradisíaca no Norte da Bahia. Como forma de presentear os pais, por levar sua filha, ele lhes deu de presente um cachorrinho, que irão chamar de Puppy.

Não é muito mais interessante do que ir à feira e comprar frutas?

As informações que adicionamos às histórias que contamos despretensiosamente são válidas. Mas somente se as contamos despretensiosamente.